fbpx

Blog HDI

Artigos, notícias e pesquisas

Como está a representação feminina na TI nos dias de hoje?

Como está a representação feminina na TI nos dias de hoje?

Recentemente, eu estava em uma viagem de negócios visitando uma das seis operações dos meus clientes. Na ocasião, ele estava realizando uma grande reunião para todos os colaboradores e parceiros, a fim de introduzir algumas mudanças que seriam implementadas.

Cheguei cedo à reunião e sentei-me no canto de trás para apenas observar e fornecer suporte conforme necessário ao meu cliente.

Quando as pessoas começaram a entrar na sala, procurando assentos disponíveis, era possível sentir o desconforto e a antecipação de que a mensagem seria dura. Mas independente disso, meu foco passou automaticamente da leitura de expressões faciais da multidão para a contagem do número de mulheres e também, minorias presentes na sala. Confesso que ao passo que a sala enchia, passei a me sentir desconfortável, porque percebi que eu era uma das três mulheres em uma sala com mais de 50 pessoas. Que fique claro, minha intenção nesse artigo, é ponderar o tema, e não levantar bandeiras extremistas. 

Se você fizer as contas, essa maioria esmagadora é muito comum nas áreas de TI. Estando naquele ambiente, comecei a me sentir desconfortável em falar e imaginei o julgamento percebido que receberia se não fosse “perfeita’’ em minha abordagem, caso precisasse me manifestar. A maioria dos ambientes empresariais não percebem, mas isso atrapalha muito o andamento dos negócios quando as mulheres possuem papéis que influem nas decisões. Elas precisam de tranquilidade para trabalhar e tomar decisões, e isso pode ser muitas vezes atrapalhado por um desconforto em situações adversas.

Virei-me para o meu colega, que é do sexo masculino, e disse: “Não temos muitas mulheres aqui. Por que você acha que existe tanta falta de diversidade? ” Ele me deu uma resposta clássica, totalmente discutível: "Provavelmente porque a área de TI é predominantemente masculina por padrão, nada demais’’.

Uma pesquisa recente sobre a eficiência dos datacenters constatou que as mulheres representam menos de 6% da força de trabalho na maioria dos datacenters, mas isso não foi visto como um problema por 70% dos entrevistados do sexo masculino. Falando da perspectiva de uma mulher na área de TI que sou, ainda me vejo às vezes sendo uma das duas mulheres na sala com 15 homens. Como sempre busco entender todas as perspectivas, conversei com algumas pessoas, e elas atribuíram a falta de mulheres nos datacenters à tendência das organizações de contratar funcionários iniciantes nos colégios técnicos (maioria culturalmente masculina), enquanto as outras profissões de TI exigem diplomas universitários, os quais serão mais balanceados entre os sexos do que os profissionais de datacenters oriundos de cursos técnicos. Será mesmo que é isso? Duvido. 

Observação do editor HDI Brasil: De acordo com levantamento da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), dos mais de 580 mil profissionais de TI que atuam no Brasil, apenas 20% são mulheres. O baixo percentual se estende mundo afora. Nos Estados Unidos, o último censo estima que elas ocupam apenas 25% dos empregos em TI. No ano passado, o Google revelou que apenas 30% de todos os seus colaboradores são do sexo feminino. De fato, ainda segundo o levantamento do PNAD, 79% das mulheres que ingressam em cursos relacionados à área de TI abandonam a faculdade ainda no primeiro ano.

Não estamos imunes às estatísticas esmagadoras que mostram a falta de representação feminina nos campos da tecnologia e seu impacto no sucesso de uma empresa. Mas, apesar dessas estatísticas surpreendentes, ainda parecemos atormentadas com essa questão não resolvida da representação. 

Pergunto:

- Quais são os verdadeiros impactos com a falta de representação feminina em tecnologia? 

- O que mulheres e homens podem fazer para ajudar a melhorar a representação feminina?

Penso que o mais decepcionante é a falta de preocupação em abordar esta questão. A autora Rosabeth Moss Kanter publicou uma pesquisa em 1977 no American Journal of Sociology, mostrando como o desequilíbrio de grupos majoritários e minoritários no local de trabalho tem um impacto profundo na dinâmica social e nos problemas de diversidade percebidos entre a organização. Traduzindo aos leigos, se o ambiente tiver a maioria de homens, naturalmente a maioria dos homens não admitirá que há um problema com a diversidade. E se a maioria não achar que há um problema a ser resolvido, o problema será ignorado e ficará sem solução.

Não evoluiu muito em 40 anos. O privilégio masculino permitiu aos homens serem capazes de ignorar questões tão flagrantes que são óbvias para as mulheres nas culturas dominadas por homens. Portanto, quando recorro ao meu colega de trabalho e aponto uma questão sobre a falta de diversidade como uma das poucas mulheres, a resposta fácil é assumir que nenhuma mulher está disponível ou que queria o emprego e descartá-lo como um problema.

Um estudo da Pew Research Center de 2018 descobriu que cerca de metade (48%) das mulheres no campo da tecnologia que trabalham principalmente com homens dizem que seu sexo dificultou o sucesso no trabalho. Isso é comparado a apenas 14% das mulheres que estão em ambientes mais eqüitativos de gênero.

O que podemos classificar como mais difícil? Alguns dizem discriminação, mas imagino que uma boa parte seja provavelmente o viés humano natural dos homens e a insegurança auto infligida pelas mulheres. Eu nunca pensei em mim como uma pessoa insegura. Mas na situação que descrevi anteriormente, me senti cada vez menor à medida que a sala continuava a se encher de mais homens brancos. Em troca, senti que tinha uma das duas opções. Afaste-se e desapareça em segundo plano ou assuma o comando e controle e domine a sala. 

Isso é um problema que começa e precisa ser também resolvido nas salas de aula. Cursos técnicos ou universidades de TI  já iniciam seus anos letivos com a maioria esmagadora de homens, justamente porque as mulheres enxergam esse ambiente como algo hostil. Além disso, muitas mulheres que entram, desistem do curso por se sentirem desestimuladas ou tratadas com inferioridade pelos professores, que muitas vezes por ‘’proteção’’, são menos rígidos com as alunas mulheres. Não somos ‘’café com leite’’ e precisamos de tratamento igual. 

Então, eu quero colocar um desafio no universo da TI para mulheres e homens. Para as mulheres, precisamos nos apoiar através de orientação e patrocínio de nossos boards e diretoria. Se houver apenas uma mulher na mesa, defenda que devem haver três. Não somos uma voz monolítica e, quanto mais diversas as vozes estiverem na mesa, melhor será a solução geral. Nós somos as maiores torcedoras das mulheres. Não podemos acreditar que nossos colegas masculinos reconheçam a questão da diversidade tão facilmente quanto nós, obviamente. Não é culpa dos homens, mas sim é uma questão antiga e estrutural, que ambos os sexos precisam ao longo do tempo resolver e balancear. 

Para os homens, especialmente em tecnologia, prestem atenção nesse tema. Para cada seis homens na sala, deve haver pelo menos uma mulher (se não mais). Se mais homens começarem a prestar atenção e falar quando houver representação na sala, a mudança realmente acontecerá. A diversidade é muito bem-vinda para a sociedade e para o mercado, pois mulheres possuem uma série de características importantes na evolução das nossas equipes e empresas. 


 

Dra. Alma Miller é uma entusiasta empreendedora, palestrante e educadora com mais de 15 anos de experiência no setor de TI. Ela possui um diploma de bacharel em engenharia elétrica pela Universidade Católica, um mestrado em engenharia elétrica pela George Washington University, um mestrado em gerenciamento técnico pela Johns Hopkins University e um doutorado em engenharia pela George Washington University. A Dra. Miller se considera uma conselheira de relacionamento entre as equipes de desenvolvimento e operações de TI. Sua empresa de consultoria fornece serviços a clientes governamentais e comerciais em vários setores. A Dra. Miller fala em conferências e eventos do setor e ministra cursos de pós-graduação para Johns Hopkins e University of California Irvine.


Imprimir   Email

Entre em contato com o HDI

Siga o HDI Brasil